11 abril 2010

Uma Londres Fish and Chips e minhas sete vidas ou mais








Hoje está bem friozinho aqui em São Paulo. E cá estou em casa, sem empregada e fazendo a vontade de minha filha que quis chamar uma amiguinha para brincar e ficar para dormir. Assim, no descanso forçado e delicioso, me atrevo a lembrar de coisas mais do que passadas e que eu pensava até, já deletadas.
Outro dia assisti uma parte do filme "This is England" e o título não poderia ser mais adequado. Morei na Inglaterra nos anos 80, e esse filme embora seja em outra parte, lembra a "minha" Londres. Uma cidade que cabia no bolso de uma estudante-que-mora-com-as-amigas, e que nem faculdade ainda tinha feito. Ou seja, uma criançola morrendo de frio," no pior inverno dos últimos anos", que é o jeito que o Inglês denomina todo e qualquer inverno, numa fantasia de que ali um dia já foi mais quente em alguma época que seja. Depois morei um tempo com meu namorado, que veio a ser meu primeiro marido e pai do meu filho José Bernardo. Ele tinha um espírito muito crítico e era engraçado. Logo começou a delinear o era o povo londrino e a chamar um determiando estilo de vida de "fish and chips". Fácil de entender: em cada esquina podia-se ver uma lanchonetinha gordurenta vendendo peixe frito com batatas fritas molengas e reluzentes. Ou aquele terrível KFC, "Kentucky Fried Chicken", também sambando em gordura, que os ingleses classe média compravam "to take away" e saiam pelas ruas comendo felizes.
COMIDA E ROSTOS RELUZENTES
A comida era tão brilhante quanto o rosto dessas pessoas. Come-se gordura demais e a pele responde com oleosidade. No inverno, parecia meio "insensato" tomar banho todos os dias, ou até mesmo lavar o rosto. E portanto, os cabelinhos e a pele deles ficavam meio sebentinhos.
Outra coisa que notávamos era que o povo fumava demais e bebia idem. Depois de muitos pints de cerveja nos pubs, até a partida do último underground, era super hiper comum ver homens fazendo confusão entre as cabines telefônicas, aquelas lindinhas vermelhinhas, com banheiro público. Entao ficava um cheiro terrível perto delas.
EU APOSTO X + Y E VOCÊ?
Conhecemos alguns desses "fish and chips" muito gente boa. Mas percebíamos também que a cultura geral dessa camada da população era praticamente inexistente. Tinha-se a noção clara de "tribos" fechadas, pelo menos em seus assuntos. Vizinhos, e pessoas que conhecíamos eventualmente aqui e ali, mantinham uma conversação que ia de uma banda de rock até algum programa de televisão. A namorada, o namorado, e as apostas do dia. ( Nunca vi um povo que goste tanto de apostar, tinha casas como as lotéricas, mas para apostar o que fosse, tipo: Lady Di e o príncipe Charles separam ou fazem as pazes? Amanhã vai chover ou vai nevar? E dá-lhe aposta.
APRENDIZ DE DISCIPLINA
No mais, fiz um curso de de mímica bem profissa e pago-pela-mamãe, que me deu a oportunidade de conhecer uma jovem elite cultural dos quatro cantos do planeta e inclusive da própria Londres. O professor, um pequeno déspota americano, fiscalizava até os banhos que tomávamos- o que fazia ele muito bem, mas naquele grupo realmente não era muito necessário.
Vigiava se nossas roupas estavam limpas, em geral malhas de balé e só nos deixava continuar o dia inteiro de aula, se tivéssemos chegado cedo para a primeira aula, a de balé clássico. O que me lembro agora vívidamente, era um verdadeiro sacrificio madrugador. Disciplina , obediencia e profisisonalismo eram as palavras de ordem ali. Mas eu amava aquele curso e aprendi muito, mas muito mesmo, do que veio pautar a minha conduta profissional muito mais na frente.
E MUITA INFORMAÇÃO, PARA COMPENSAR
Também enriqueci minha cultura vinda da família bem "letrada", nas visitas constantes as galerias como a Serpentine, que ficava dentro do Hyde Park se não me engano. A Tate Gallery. As infinitas visitas ao British Museum, onde com uma carta escrita por meu padrasto, consegui me tornar sócia da biblioteca e podia ver coisas grandiosas como os originais de "O Capital" de Karl Marx e ler tudo que havia nesse mundo, de livros, a revistas e jornais. Assistia aos balés, óperas e concertos sempre. O meu curto dinheirinho dava para essas coisas. Sinal de que o país subsidia fortemente a vida cultural, só não aproveita quem não quer. E comia sempre que podia num restaurantezinho natureba que existe até hoje em Covent Garden, e era perto do Balé e da Ópera, justamente.
Fora isso, eu era sócia do ICA, Institute of Contemporary Arts, onde via coisas como os filmes surrealistas do Salvador Dali e documentários políticos do mundo inteiro. Estudava Inglês na Inter-Coop, um curso subisidiado pela Anisitia Internacional- nossa,nem me lembro como fui parar lá. E ali também conheci gente do mundo todo, uma verdadeira ONU.
Se eu for pensar bem, embora ache ainda hoje que os ingleses são quase todos iguais, de nariz arrebitado e meio inchadinhos de tanto comer essas coisas oleosas e outras impensáveis como "kidney pie"- algo que não posso sentir o cheiro, isso tudo é o menos importante. Embora o povo Inglês seja sem sombra de dúvida um povo bélico e muito preconceituoso. Só de lembrar a maneira que tratavam os indianos, uma vergonha verdade seja dita, é um povo de valor. Por que construiu um país de onde, quem passa leva muita coisa boa na bagagem. Isso é maravilhoso, não tem preço. É um banho de cultura a todo momento para quem foi educado para deixar tudo isso entrar. Quer saber? A próxima vez que eu e Anna Luiza formos visitar minha irmã em Paris, vou voltar a Londres e rever depois de tantas anos, uma cidade que jurei que não voltaria de pura birra. Deve estar renovada, como a cara do chef Jaime Olivier (quem diria que o país que tem fama de ter a pior comida do mundo teria um chef famoso e moderninho?)
Seja lá como for, agradeço ao meu avô Sales e a minha mãe por ter tido essa possibilidade na vida. E assim que eu puder, vou mostrar a minha pequena um novo Arco do Triunfo, que fica em Trafalgar Square. Vamos passear nos parques. Visitar o British... Muito bom. Se puder, vá também, vale a pena. (fotos retiradas de busca no Google)

3 comentários:

  1. Que bacana Cam, é ótimo relembrar os bons tempos, não? No inverno rigoroso, dizem que não vale a pena tomar banho, mas eu não conseguiria.

    Não entendo a combinação de peixe frito com batatas, nem mesmo dos franceses, com mexilhões com fritas.

    Mas hamburguer com fritas eu gosto, eheheh. Hoje estamos fazendo feijoada, adoro, principalmente com um friozinho de hoje.

    boa semana para vocês Cam

    bj

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  2. Passeei por toda Londres agora.
    Senti muito frio, só não comi a comida gordurosa.
    Que bonitas lembranças.
    Tenho certeza que Anna Luiza vai adorar.
    Beijos e uma ótima semana querida.
    Assim que puder me mande um email, me dizendo como vão as coisas. Se houve alguma luz.
    Beijos nossos.

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  3. Oi Camille!

    Eu ando "vivendo" tudo isso que você descreveu aí acima - menos a comida gordurosa! rs Vou ao British Museaum semana que vem novamente e aproveito sempre para passear pela Trafalgar Square - gosto de lá e da Galeria onde sempre volta para apreciar alguns Van Goghs (meu predileto pintor).

    beijos querida e se quiser algo daqui pode pedir, se couber na mala eu levo! Mande e-mail para mim: bluemoontina@gmail.com

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